domingo, 13 de dezembro de 2009

Elogio ao errro


Uma virgula a mais,
Um ponto final mal colocado.e um ponto de exclamação escondido algures
O errro ortográfico que passou despercebido a todos que leram e releram a obra antes da sua publicação.
A gralha gralha em que ninguém reparou.
O pleonasmo contestado que tanta gente contestou.
E isto que era suposto ser uma prosa...de repente rimou.
O lapso de escrita.

A orquestra que desafina perante o atónito olhar do conceituado maestro.
A afónica cantora que é obrigada a pedir desculpa ao seu público.
A letra esquecida.
A melodia perdida.
O grave que ficou agudo e a nota Sol que por passar a Mi se tornou Ré.

O actor que cai em palco quando era suposto estar de pé.
A fala trocada no drama em que acaba tudo a rir.
A emoção que ficou por transmitir.
O cenário que cai e o actor que não sai de cena quando devia sair.
Em resumo: O erro de Casting que ninguém vai admitir.

Fica em pânico o homem estátua que de repente sentiu uma comichão,
o trapezista que em vez de voar aterrou no chão
e o pintor que ao assinar a obra perfeita borratou a pintura.
Ah Vénus de Milo...que se ainda tivesses braços ias ser uma conhecida escultura!!!

A perfeição está na tela branca e no majestoso bloco de granito intacto.
De repente, o homem mete mãos ao trabalho e tudo é humanizado.
E há maior prova da presença humana numa obra que o erro?
Só o erro releva, revela, e torna a obra que era perfeita, bela.
Há que transformar a perfeição:
Moldar o que era linear,
o que era barato passa a ser caro,
fazer barulho no perfeito silêncio,
tornar o branco em preto
e o que era escuro em claro.

É preciso forçar expressões
na límpida e serena face.
Mostrar emoções
mesmo que nada se passe.
Preencher espaços...
Há que fazer do novelo de lã algo aparecer,
criar o caos, a desordem, o colapso,
transformar o lúcido em insano,
algo invisível em algo que se consiga ver,
encontrar numa obra que parecia perfeita
um erro, um lapso
que nos faça recordar que errar é humano
e que toda a arte o deve transparecer.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Distância


Distância ou a razão de tudo que acontece no mundo.
Exagero?
Fantasia?
Palermice a que este gajo nos habituou?
Não.
Exactidão!
Realidade!
Parece que ele desta vez até tem razão!
Dirão vocês no final.
Tudo, mas tudo, é consequência da distância.
E é "tão tudo" que nem sei por onde começar...
Posto isto dou por mim neste momento a ponderar não escrever mais nada...
No entanto, comprometi-me a provar uma teoria, pelo que vai uma grande distância entre a minha ponderação e aquilo que vou fazer:
Distância...
Antes de mais nada a razão porque estás a ler estas linhas.
Se não fosse a distância estaria eu a provar te pessoalmente esta minha teoria.
Poderia falar contigo num tom mais alto ou mais baixo dependendo da distância que nos separasse, podendo a distância ser a causa de eu ficar afónico ou dos problemas auditivos que te iria provocar.
Isto claro, se por causa da necessidade de encurtar a distância, eu não tivesse um acidente de carro ou avião, como acontece a milhões de pessoas que por causa da temática aqui abordada dão cabo da vida.
Vida essa que muitos perdem na guerra, que mais não é do que uma luta pela ocupação de espaços, de forma a encurtarem-se distâncias.
Antes pretendiam-se encurtar distâncias para um melhor domínio de certos pontos estratégicos, actualmente grande parte das guerras tem como denominador comum espaços onde abunde petróleo.
Petróleo, esse recurso natural, que é só a principal fonte de energia que temos e que serve para gerar combustível que visa...
Exactamente...permitir que se percorram grandes distâncias em muito menos tempo.
Sempre a distância...em tudo que fazemos ela está lá, até nas relações e no nosso estado de espírito:
Quem gostamos queremos que esteja perto, senão sofremos.
Quem odiamos queremos que esteja longe senão sofremos.
Sem comida perto não sobrevivemos muito tempo.
Com bebida longe sobrevivemos menos tempo ainda.
Perto, longe,perto,longe...é tudo o que interessa e tudo de que depende a felicidade.
Perto o que amamos, longe o que nos faz sofrer, seja algo palpável ou não.
Distância, a única condicionante da felicidade.
Posto isto é facilmente perceptível que tudo o que fazemos é por causa da distância ser maior ou menor, só esta condiciona toda a nossa vida:
O tempo que perdemos, as coisas que acontecem, as relações que criamos, o facto de estarmos vivos, tudo se deve a ela.
Tudo se resume a ela.
Nascemos porque a distância entre os nossos pais se anulou completamente 9 meses antes do nascimento e somos quem somos porque nessa altura um espermatozóide foi o mais rápido a percorrer uma pequena distância.
E no final...sim...até no final ela estará lá...
Porque no final o caminho será sempre o mesmo e estará à distância de sete palmos de terra.

segunda-feira, 30 de março de 2009

SER ESPECIAL



Tem estado na moda dizer-se que Fulano ou "Beltrana" é especial.
Esteve há pouco tempo na moda dizer-se que um treinador de futebol era o Especial.
Há uns anos era o bacalhau com natas que a minha bisavó fazia que era especial.
Que se passou afinal para este adjectivo ser transportado das natas do sublime bacalhau para um imprescindível elemento auxiliar da caracterização de tantas almas, consubstanciando-se na derradeira fase numa antonomásia se bem que fruto de uma tradução à letra que "the special one" não se coibiu de fazer.
Importa uma reflexão "séria q.b." e profunda sobre o significado de se ser especial porque se há algo que não pode cair na banalidade é a especialidade sob pena de o conceito perder o seu efeito útil.
Claro que todos somos especiais, mas por sermos todos especiais desde que concebidos (resultamos de um espermatozóide especialmente rápido, forte e inteligente) até que morremos (com honras de aparecer no jornal, pelo menos na secção de necrologia), há que encontrar nesta panóplia de seres tão semelhantes, aqueles que se distinguem no decurso das suas vidas.
Isto porque ser especial é em primeiro lugar ser diferente.
Atrevo-me a dizer com toda a certeza que ser especial é ser positivamente diferente.
Ha sempre uma conotação positiva na palavra especial e até quando utilizada para situações que poderiam ser menos agradáveis visam suavizar a forma como encaramos o assunto ( ocorre-me o exemplo do ensino especial).
Este conceito fechado e conclusivo de se ser especial, apenas diz respeito a qualidades das pessoas (ah, ela é especial...) e só assim se explica o absurdo de uma discussão com este teor:
- Meu grande cabrão, filho de uma grande p..., urso de m..., paneleiro do c....
- És mesmo especial.
- O quê????Não acredito que disseste isso de mim.Vou ter mesmo de te arrebentar todo.
Curioso, apressei-me a procurar na wikipedia, tábua salvadora de todos os pseudo- escritores deste planeta, a definição de especial, de modo a saber, se a maior enciclopédia do mundo atribuía essa conotação positiva que defendo e constatei que esta ferramenta é especialmente omissa nesta matéria.
Continuando esta tentativa de descobrir o que é ser se especial, deparo-me com uma inevitável questão:
Somos especiais porque simplesmente somos especiais, qual condição inerte e inata que não sai do nosso ser, a qual todos os outros mesmo com baixo nivel de miopia e estigmatismo o conseguem ver ou será que somos especiais apenas aos olhos de certas pessoas e tudo é subjectivo explicando-se assim a razão de sermos especiais para umas pessoas e banais para outras?
Resposta: Ambas as justificativas são plausíveis de garantir a especialidade humana.
Mais!Apenas se é especial quando as duas hipóteses se unem.
Ser especial é antes que tudo sermos nós próprios, porque ninguém é especial a ser o que não é ou a fazer algo para o qual está limitado...
Minto...
Quem tenta ser especial a ser o que não é, é especial...especialmente ridiculo.
Veja-se o exemplificativo caso de Xau Min Hung, o anão chinês que tentou uma carreira na nba, sendo o seu caso apelidado de "anedota do ano" pela cruel imprensa norte americana.
Quem diria que Xau Min Hung seria hoje dos nomes mais respeitados da indústria circense, onde exerce a bonita actividade de "homem bala", Xau conseguiu voar de uma actividade onde era visto como uma ridícula ave rara, para uma outra onde se tornou especial e mesmo uma lenda viva (viva pelo menos enquanto não aumentarem a distância de voo como pretendem fazer este ano) por ter ganho 4 vezes consecutivas o mini canhão de ouro, distinção máxima para quem exerce a sua profissão.
Por isso concluo que ser especial é uma qualidade que têm de ser temporal, ninguém é especial a vida toda.Ha as bestas e os bestiais, há os que foram bestas e hoje são bestiais e há os que bestiais foram e hoje são grandes bestas.
Finalmente, na posse de um dicionário, nada melhor que terminar, transcrevendo a definição que está no dito:
Especial:
do Lat. speciale
adj. 2 gén.,
relativo a uma espécie; próprio; peculiar; característico, particular; exclusivo; privativo; singular; excelente; fora do comum.
Desculpem-me os entendidos na matéria, mas depois de tanto dissertar sobre este assunto, legitimo-me a criticar a a afirmar que só têm necessidade de utilizar tantas palavras para definir "especial" quem nunca provou o bacalhau com natas que a minha bisavó tão bem fazia.

JPC2009

sexta-feira, 27 de março de 2009

Viajar



Pedro Alvares Cabral, nasceu em 1467 e tornou se conhecido por ter descoberto o Brasil, é a ele que devemos o facto de ouvir diariamente aquele sotaque que se no inicio era harmonioso e doce, aos poucos tornou-se irritante ao ponto de nos apetecer gritar para o outro lado do oceano Atlantico "IMPORTAM-SE DE FALAR COMO GENTE NORMAL?".
Para o bem ou para o mal, uma coisa podemos dizer, com ou sem sotaque, que de facto Pedro Alvares Cabral viajou.
Vasco da Gama nasceu em 1469 e ainda no seculo XV zarpou do rio Tejo em direcção à India, a ele devemos todas aquelas especiarias que nos dão mais sabor á vida, mas também aqueles pratos picantes e intragáveis para o nosso sensivel paladar ocidental.
Não sei se depois disso, o navegador Português condimentou adequadamente a sua vida, mas não restam dúvidas que Vasco da Gama viajou.
Fernão de Magalhães nasceu em 1480, atravessou na sua embarcação um estreito que nunca houvera sido transposto e foi o primeiro Europeu a navegar pelo oceano pacifico.
A ele devemos a certeza e o orgulho de que o maior oceano do mundo foi atravessado pela primeira vez por um de nós, mas também lhe devemos horas e horas de musica melancolica na rfm todas as noites.
Seria da mais elementar justiça se Pedro Abrunhosa cantasse um dia que Fernão de Magalhães viajou.
Sacadura Cabral nasceu em 1881, considerado um aviador distintissimo, voou para a Madeira e Moçambique.
A ele devemos o facto de a Madeira se aproximar do Continente tornado-se "ainda mais Portugal", mas também o facto de termos de aterrar aterrorizados num dos aeroportos mais perigosos do mundo.
Com medo ou sem medo, o certo é que Sacadura Cabral viajou.
"Zé Manel", nasceu em 1985, aos 25 anos já conhecia o mundo inteir0...Navegara por sites desonhecidos pelo comum dos mortais, explorara livros, deixara a sua imaginação voar com as centenas de filmes que vira e caminhara pelos lugares mais exóticos de olhos fechados, ao som de musicas reveladoras de longinquos locais.
Conheceu assim mais lugares do que qualquer pessoa que passe a vida a viajar,mas será que poderemos dizer com toda a certeza que, mesmo sendo de uma maneira diferente, o Zé Manel viajou?
Qual navegador dos tempos modernos em que o portatil indica o Norte, o vento determina em que direcção virar as páginas, para que o mp3 chegue a bom porto, sem necessidade de descer à caixa do dvd para remendar um qualquer buraco que um trajecto mal calculado provoque.
Mas Zé Manel não viajou.
Viajar é estar nos sitios, para que se possa dizer que de facto aquilo é como aparece no filme ou então que não têm qualquer correspondência com o que a musica nos diz.
Viajar não é só ver...é cheirar, é saborear, é falar com as pessoas, conhecer a cultura dentro da própria cultura e não como um simples observador.
Viajar é trazer algo de novo para contar, se não for a descoberta de um novo mundo para o mundo em geral, como as personagens já aqui aludidas, que seja uma experiência, um ponto de vista, a descoberta de um novo mundo para alguém em particular.
Viajar é ser assaltado no Rio de Janeiro, é fumar algo estranho em Amsterdão, é tropeçar nas piramides de Chichen Itza, é sentir um arrepio quando se vê in loco a força do olhar de uma mulher árabe com a cara parcialmente coberta.
Porque se para se viajar bastasse ler um livro qualquer, para se estar apaixonado bastaria ler o Romeu e Julieta.

terça-feira, 24 de março de 2009

DESTINO



Ele não acreditava no destino.
A sua vida fora no entanto uma extraordinária sucessão de acontecimentos inexplicáveis:
Complicações no parto ditaram a sorte que durante a sua vida nunca o abandonaria.
Com o seu pequeno pescoço abraçado pelo cordão umbilical, quando cumprimentava pela primeira vez o mundo, ainda hoje ninguém consegue explicar o milagre que aconteceu uns minutos depois do milagre que foi o seu nascimento.
A mãe desmaiara com as dores, e permanecera no soalho de sua casa durante umas infindáveis 8 horas.
Mas ele tinha de nascer naquele momento, porque nascendo um dia depois toda a sua vida teria um designio completamente diferente.
Diz quem o encontrou que ele ali já estava há 2 dias, a mãe que se mãe era fora por vontades alheias, deitada já na cama confirmava:
"Nasceu há dois dias mas mal olhei para ele tamanhas as dores que sinto... Vi que estava morto e deixei-o no sitio".
Mas não estava morto.
Estava "apenas" asfixiado, isto claro, além de indesejado, esquecido e principalmente abençoado.
"Foi como foi e não como tinha de ser" defender-se-ia anos mais tarde quando questionado sobre a sorte que o acompanhara desde o inicio.
Ele não acreditava no destino.
Cresceu, fez-se homem, não sem antes numa noite de itempérie um infeliz acontecimento marcar a vida de quem conhecia o quotidiano da aldeia onde viva.
Brincava com dois amigos, no pátio de sua casa quando dois raios de rajada, aniquilaram os companheiros que se encontravam a menos de dois metros dele.
Todos olhavam para ele como se de um santo se tratasse e quando lhe disseram que estava escrito que ele não iria morrer naquela noite, a sua reacção foi brusca e violenta "Destino?Isso não existe...Foi como foi e não como tinha de ser."
Os avós assustados, entenderam que aquilo era um aviso, e disseram para ele ir para bem longe, porque Deus não avisa três vezes quando as pessoas não ligam aos sinais e não cumprem suas vontades.
Ele foi se embora para uma vila maior e ai ultrapassou as 20 primaveras, sem nunca perceber a benção que era estar ali a festejar os seus milagres da vida.
Era um facto...
Ele não acreditava no destino.
Não acreditava nas forças da natureza, nem na existência de uma ordem natural ditada pelo universo.
Mas acreditou na força do vento e na desordem que este provocou naquele arraial ao qual ele não queria ir.
Foi contrariado e no meio da confusão, começou a discutir com as contas que o vendedor de farturas fizera, pegou num papel do chão e explicou-lhe que a razão estava do seu lado, somando o preço de todos os bens que lhe comprara.
Mas não estava, pois o preço era o correcto.
Guardou o papel e no dia seguinte a lotaria andou à roda e no bolso das suas calças, uma taluda outrora perdida, agora mal achada,transformar-se-ia em milhões.
O dinheiro não lhe subiu à cabeça, nem a ideia que algo cientificamente não explicável acontecera.
Continuava sempre com a mesma convicção...
Ele não acreditava no destino.
Já o destino provavelmente acreditava muito nele, qual cobaia de tantos acasos, cuja singular ocorrencia na vida de um nós se traduziria como o momento mais marcante da nossa existência.
Mas na vida dele era apenas mais um momento.
Um momento que aconteceu, única e simplesmente, porque sim.
"Porque não?".
Esta sua pergunta era retórica pois o dinheiro era dele e se decidiu gastar tudo no jogo, tal tratou-se de uma opção válida como outra qualquer.
Durou meses esta sua dependência, todos os dias de todos os meses ele lá estava desde que a porta abria até que uma voz abafada anunciava o encerrar da casa de jogo, ele e mais 7 jogadores que procuravam ter um centesimo daquilo que ele já tinha.
Mas a depêndencia aumentou e numa noite de total loucura e desvario a metade da sua fortuna que lhe restava esvaiu-se por entre "all-ins" despropositados.
Sozinho e de bolsos vazios pensava..."Então...ninguém me vem agora falar do Destino e da minha boa estrela?".
Nunca veio a saber que no dia seguinte, todos que ali estavam receberam ordem de prisão e foram condenados a 22 anos de prisão pela prática de jogo ilegal e por uma serie de crimes violentos, que apesar de não terem cometido, serviram na perfeição para publicitar mais uma grande vitória da justiça.
Sem dinheiro teve de procurar um emprego e facilmente preencheu uma vaga de comercial de uma grande multinacional.Ai contactou com milhares de pessoas, conheceu gente como nunca antes conhecera, eram tantas pessoas que muitas ficaram seus amigos e eram em numero tão exagerado que nem dessas ele sabia o nome.
Entre tanta gente nova que entrava na sua vida, conheceu com naturalidade a mulher com que casou.
Teve filhos, netos e ainda assistiu ao nascimento de dois bisnetos e um trisneto.
Natural, para quem tanto fintara a morte.
Antes de morrer, dezenas de jornalistas invadiram a sua casa por ocasião do seu centésimo vigésimo terceiro aniversário e foi ai que explicou:
"Recusei-me sempre a acreditar no Destino, porque se acreditasse e agradecesse ao destino por ter conseguido nascer, por ter escapado à morte e por ter ficado milionário, também teria de o culpar por ter perdido a minha mãe, por ter perdido os meus únicos dois amigos de infância e por me ter viciado no jogo sentindo na pele o que é ficar de repente sem nada.
As coisas boas e más, fui eu fiz acontecer, tudo...quase tudo...porque se não fosse a minha luta com horas de vida, eu estar um metro e pouco afastado dos meus amigos e eu ter pegado naquela cautela premiada, nunca teria conhecido a mulher da minha vida e construido esta familia.
Porque aconteceu isto?Fácil amigos, isto só pode ser obra do destino."
E aquele que não acreditava no destino acabou por morrer junto à mulher que amava, numa noite de trovoada, enquanto via na televisão a extração dos números da lotaria.
Ah...morreu asfixiado e abençoado mas quis o destino que jamais fosse indesejado ou esquecido.

JPC 2009

terça-feira, 18 de março de 2008

Clérigos



Nunca percebi o porquê de tantas pessoas considerarem a torre dos clérigos como o grande icon da cidade do Porto.
Quem conhece bem esta torre, perceberá certamente o meu desconhecimento.
A verdade é que a torre é o símbolo da cidade do Porto, não obstante a falta de imponência que ostenta.
A torre tem apenas 6 andares, repartidos pelos 76 metros de altura.
Era, segundo o que dispõe a wikipédia, na altura da sua construção o edifício mais alto de Portugal. Hoje acredito que fosse dos edifícios mais altos...do Portugal dos Pequeninos.
É uma torre bonita sem dúvida, mas beleza maior não falta em muitos pontos desta cidade.
Simbolismo.
Só pode ser esta a razão para tanto reconhecimento para com esta estrutura de 76 metros.
Qual "taj mahal tuga", deve ter sido mandado construir para que um rei demonstrasse todo o seu amor por uma tripeira, provavelmente do cimo daquela torre declarou-se...
Errado.
Fui investigar e a já citada wikipédia não deixa margem para dúvidas:
"Foi iniciada em 1754, tendo em conta o aproveito do terreno que sobrara para a instalação da enfermaria dos Clérigos."
Ou seja, aquele que é provavelmente o maior símbolo da invicta, por muita confusão que possa causar aos seus defensores, existe porque sobraram uns metros quadrados aquando da construção de uma enfermaria.
O que fazer?
Uma ala psiquiátrica?Uma sala de espera para os doentes? Novos quartos para que a enfermaria possa dar melhor resposta ás necessidades dos Portuenses?
Nada disso, fazemos uma torre bonita com quatro mostradores de relógio que nunca funcionarão.
E ai está...todos a conhecem,todos a associam ao Porto e todos a fotografam e eu não fugi à regra, não vá ser considerado louco por ignorar o ex libris da cidade Invicta.

sábado, 29 de dezembro de 2007

Avó Natal


A missão era simples de enunciar mas dificil de concretizar:
Encontrar a Avó Natal.
Munido da minha fiel objectiva encetei diligências para concretizar o propósito.
Na minha memória perdurava ainda o dia que encontrei a mulher afegã, contribuindo decisivamente para a capa mais famosa de sempre da National Geographic.
No entanto a primeira coisa que ouço depois de vislumbrar aqueles miticos olhos foi: "Está bem está...esta qualquer um encontrava, ainda se fosse a Avó Natal...".
Nunca mais me esqueci daquele desafio e no dia do desfile de Pais Natais no Porto,tive um feeling do género daquele que tive antes do Portugal - Malta de 1992 em que algo me dizia que iríamos vencer.
Deste modo depois de semanas a assistir ao vivo aos programas da manhã do Manuel Luis Goucha a ver se encontrava a velhinha, decidi que a Avó Natal é uma avó diferente e por isso frequentaria sitios diferentes.
Não me enganei.Apesar das minhas mãos tremerem como varas verdes consegui registar o momento em que a Avó, sem a qual o Pai Natal não existiria, desfilava no meio de milhares de familiares seus.
E mal o momento se eternizou no tempo ouvi uma voz gritar no meio da multidão:
"Está bem está...esta qualquer um encontrava, ainda se fosse a Angelina Jolie...".
Avizinham-se tempos difíceis...

domingo, 16 de dezembro de 2007

Mãe Arvore



Para quem me dizia que na Foz só há betos e tias, aqui está a prova do que eu sempre sustentara:
É mentira!
Na Foz há betos, tias e arvores de grande porte.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Legos no Rio Douro



Num gelo invicto atravessei a ponte e do lado de onde o Porto é mais bonito registei, para que um dia não digam que minto quando disser que um dia o Porto foi ainda mais bonito.

domingo, 30 de setembro de 2007

BARULHO


Porto, 01 de Outubro de 2007

Desde que me mudei para este apartamento, quando me separei da minha mulher, que as noites tornaram-se um pesadelo. O sepulcral silêncio habitava cada metro quadrado da minha humilde casa e sem pedir licença ensurdecia os meus ouvidos tão habituados ao ofegante respirar da minha Maria.
A rua é calma e pacata, sossegada e desprovida de qualquer rebuliço indiciador que um caminho da invicta se trata.
Habituei-me por isso neste últimos cinco anos a tratar por tu o silêncio, a respeita-lo como algo sagrado e a senti-lo como se de um amigo se tratasse.
A solidão não é uma coisa boa mas às vezes é aquilo que temos de melhor e é por isso que não desesperei em arranjar uma companhia que abrisse a porta a este nu sonoro que durante tanto tempo me acompanhou entre estas quatro paredes.
Quando pela primeira vez a vi, senti de imediato que algo na minha pacata vida estava prestes a mudar…Uma graciosidade sem precedentes e uma contagiante alegria invadiram o meu espaço e as noites nunca mais voltaram a ser noites de um sepulcral silêncio.
Nunca mais adormeci às 21 horas, como se fosse uma criança com um respeito divino pela ordem dada pelos “patinhos”.
Nunca mais acordei ás 10 horas com o pesado silêncio que me obrigava a ligar mecanicamente o rádio, para que o diluísse com as frescas noticias do dia.
Nunca mais tive um sono seguido, sem que os meus tristes sonhos sofressem interrupções.
Por tudo isto lhe peço que por favor se lembre que tem vizinhos que não são obrigados a aturar o chiqueiro e o chavascal que para ai vai e que se não começa a ter mais cuidado com o barulho que faz poderá ter algum azar, um dia destes no elevador.
Atenciosamente, o sempre disponível vizinho do 3ºesquerdo, Adolfo.

sábado, 22 de setembro de 2007

Dia Mundial sem carros



Hoje comemora-se o dia Mundial sem carros.Em varias localidades do mundo, o dia é celebrado através do corte de estradas e caminhos à circulação de automóveis.Um inconveniente para muitas pessoas mas o melhor é aproveitarem enquanto este dia existe. Ou é de mim ou de hoje a 300 anos o que se celebrará será o dia Mundial sem pessoas.

domingo, 16 de setembro de 2007

SER PORTUGUÊS

Por ocasião do campeonato do mundo de Rugby em França entrou nas nossas casas este momento delicioso, que deveria ser a regra e não a excepção do que significa sentir Portugal.
Muita curiosidade havia para saber como conseguiu pela primeira vez na história da modalidade uma equipa amadora atingir a fase final de um campeonato do mundo, por isso decidi ver este primeiro jogo contra um dos monstros do rugby consciente que os milagres dificilmente acontecem.
Não precisei de ver o jogo.
Um minuto e oito segundos depois de "os lobos" começarem a cantar o hino percebi perfeitamente como se qualificaram para esta fase,levantei-me do sofá e fui aproveitar o dia de outra maneira.
Ser Português pode não ser termos a melhor voz do mundo ou a melhor equipa, pode não ser possuirmos as vozes mais afinadas do universo ou os jogadores com maior tecnica mas ser Português é ter vontade de chegar onde todas as nossas limitações não querem que cheguemos...E de vez em quando vencemos essas limitações perante a estupefação de todos que não compreendem como o conseguimos,não percebendo que o segredo de tudo o que conseguimos na vida, ás vezes, é unica e simplesmente sermos Portugueses.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

FILHOS


Os filhos são para mim uma inesgotável fonte de problemas.
Eu até gosto de crianças, mas no que diz respeito aos meus rebentos decididamente não tenho tido muita sorte.
E o pior é que eles ainda nem sequer nasceram…e pior do que o pior é que nem concebidos eles ainda foram.
Porque têm sempre de vir á baila a questão de “quantos filhos queres ter?”
Em primeiro lugar eu não vou ter filhos, apetece-me dizer. A única questão que me pode ser colocada é a de quantos filhos quero fazer, ao que me dá vontade de responder “ Quero passar a vida a faze-los, acho que é essa a minha vocação, prometo faze-los perfeitinhos e estudei durante anos as melhores técnicas para que saiam inteligentes como o Einstein e perfeitinhos Brad Pitts e trés Jolies Angelinas.”
Mas não foi essa a resposta que dei quando a Mariana me fez a maldita pergunta.
“Quantos filhos…gostava de ter dois. Um por volta dos 30 anos contigo e outro por volta dos 40 com uma mulher que na altura seja mais nova.”.
Mariana era lindíssima, se calhar até foi a minha namorada mais bonita, mas a paciência de certeza que não era uma das grandes qualidades dela. Por ter sido tão sincero terminamos o namoro.
Mesmo com a consciência de que tinha aprendido a lição os meus ouvidos não acreditaram quando a Paola, mais tarde, reformulou a interrogação que tantos dissabores me trouxera uns meses antes:
“Bem Paola…filhos quero ter 3, mas a maioria quero que sejam teus. De dois serás tu a mãe. O outro quero ter mais tarde quando for um quarentão e de preferência com uma mulher de 20 e muitos.”.
Em vez dos dois filhos, ganhei dois estalos mas tive a certeza que encontrara a resposta perfeita para quando essa pergunta me voltasse a ser colocada.
Afinal o que elas queriam ouvir não era que a maioria dos filhos será delas. O problema das minhas respostas só podia ser o timing utilizado. A resposta perfeita estava consciencializada para quando voltasse a ser necessário.
Não demorou um ano a tal acontecer: “Joana, quero apenas dois filhos, um contigo por volta dos 40 para que até lá te divirtas sem grandes responsabilidades e outro em breve com uma mulher qualquer com que me apeteça ir para a cama.”.
Acho que de facto nunca vou perceber as mulheres…Mas tudo bem, mentirei com todas as minhas forças quando a Conceição, minha actual companheira me fizer essa pergunta e desta vez se se falar de filhos salto para cima dela e digo que é com ela que os vou ter, todinhos.
Posso ter demorado a perceber, mas não sou propriamente burro…
Tenho é de ter cuidado com o reumatismo dela porque quando temos 77 anos há certos esforços que não devemos fazer.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

PECADO ORIGINAL

Não há história de amor entre duas pessoas mais antiga do que esta, pelo que me parece pertinente abordar algumas considerações sobre esta relação.

Antes de mais importa constatar o facto indesmentível de que Adão e Eva conheceram-se porque não tiveram alternativa.

O Padrinho de Adão, um tal de Deus aproveitou a sesta do afilhado para criar Eva. Quando este despertou não teve escolha. Tinha de ser Eva o seu amor, o que não foi grave porque Adão também não tinha termos de comparação para que pudesse dizer: “Oh meu Deus…tanta mulher bonita e tu fazes me acordar com este trambolho? Ainda por cima…é pá…espera ai…a minha costela?”.

Já Eva deve ter ficado com uma óptima impressão do seu companheiro “Um gajo desta idade, que nunca viu o que é uma mulher nua e nem sequer se digna a afastar-me esta maldita folha de plátano?”

O medo de Adão era compreensível…sendo uma das costelas de Eva, a costela que lhe pertencera até que ponto um envolvimento de cariz sexual entre os dois não constituiria um mero acto masturbatório?

Um dia Adão ganhou coragem e como era a primeira vez de ambos, decidiu que deveriam ir para um sítio especial assegurar o futuro de toda a humanidade.

“Eva da minha costela, vamos ali ao Jardim ao Éden pecar um bocadinho que eu não aguento mais…”

E lá se dirigiram ambos para oriente a caminho do jardim que Adão cultivava e guardava dizendo repetidas vezes com orgulho que “Nunca ninguém, além de nós os dois colocou os pés nesta maravilha.”

Chegados aos jardins onde as mais belas espécies de árvores de fruto desabrochavam Adão e Eva sucumbiram ao prazer da carne perante o atónito olhar de uma serpente.

Pecaram forte e feio…da primeira vez originalmente, da segunda, terceira e quarta não tanto.

Questiono me sobre a necessidade de adjectivar o pecado.

Se Adão e Eva foram os primeiros não é por demais obvio que tudo que fizeram é original?

Além disso não posso deixar de imaginar:

Adão arremessa uma pedra,”Eva da minha costela, fiz o arremesso original anda ver.”.

Eva dá 8 saltinhos,”Adão…Adão…dei 8 saltinhos originais.”.

Temos pena que quando Adão deu a sua “cagada original” ainda não tinha ninguém com quem partilhar o especial momento.

No fim de tanto pecarem no maravilhoso jardim, apeteceu algo a Eva e há falta do belo do cigarro, teve que se contentar em degustar uma maça que partilhou com Adão que não se coibiu de dar duas passas…dentadas no fruto proibido.

Alguns entendidos na matéria dizem que não foi muito boa ideia comer os frutos da árvore do conhecimento do bem e do mal pois tal foi proibido pelo Padrinho de Adão que de imediato munido de uma caçadeira expulsou o casal do Jardim enquanto gritava:

“Controlei-me enquanto vocês faziam aquelas indecências e me destruíram a horta da primeira vez, não vos incomodei enquanto vocês estavam naquela posição estranha em cima do meu batatal na segunda, deixei me estar a observar enquanto a menina Eva me destruiu a trepadeira da terceira vez e por fim não fui capaz de vos chamar a atenção que me tinham dado cabo da vindima lá com as vossas maluquices. Mas agora que já estão com as folhas de plátano vestidas como se atrevem a comer a maça?”

Nunca mais voltaram aquele jardim, onde ganharam o gosto por pecar em sítios públicos e Adão que nunca esqueceu aqueles orgásmicos momentos que ali passou com Eva, passou a designar carinhosamente o espaço como Paraíso.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Recordar é viver



Compilação de todos os poemas, se é que se pode chamar poemas a estas composições básicas, que eu escrevia quando tinha 14,15 anos.Tinha os aqui em casa em uns papeis e agora ficam aqui blogados para mais tarde recordar.
Não gozem muito por favor, se tivessem tido uma infância difícil como a minha perceberiam melhor.
Se este blog fala de tudo que tem a ver com amor, faz todo o sentido...
www.ferrete.blogspot.com

domingo, 29 de julho de 2007

FETICHE


Sempre que em conversas com amigas a questão dos fetiches vêm á baila, juro que não são assim tantas as vezes, já sei que pensam que estou a mentir quando digo que não tenho vontade nenhuma de ir para a cama com duas mulheres.
Mas é a verdade, pelo menos com as duas ao mesmo tempo não tenho essa vontade. Pertencendo provavelmente à sempre desagradável minoria porque se as minorias fossem uma boa coisa não seriam minorias e por isso senti a necessidade de me justificar:
Nunca estive com duas mulheres ao mesmo tempo, nem isso está nos meus planos por três essenciais ordens de razões:
Se uma mulher já dá muito trabalho então duas fariam de mim um verdadeiro workaholic.
Porque sempre tive dificuldade em decorar nomes.
Por fim porque tenho a certeza que durante o acto a coisa iria dar para o torto, imaginem, se conseguirem…
A Vanessa gosta de ser insultada durante o acto, a Patrícia apesar de adorar menages têm aversão a asneiras “ eu avisei que não seria fácil este exercício mental”, será que eu ia retirar algum prazer ao ter sexo com elas, só de imaginar o que me poderia acontecer se em vez de chamar cabra à Vanessa, dirigisse este insulto à Patrícia?
Não é fácil estar tão concentrado, numa situação dessas.
E tratando-se de duas mulheres, o que aconteceria se eu desse mais 2 minutos de atenção á Patrícia do que à Vanessa?
Não nos esqueçamos que a minha situação é de risco, não estando vestido para matar podemos dizer que estou despido para morrer. E cheira-me que não deve ser uma morte nada agradável, apesar das circunstâncias que poderiam fazer supor o contrário.
E se a Patrícia que não gosta de asneiras, adora chicotes e a Vanessa que cresceu num circo a ver leões a ser domados, tem um trauma com os mesmos?
Se eu acertar na Vanessa sem querer quem se responsabiliza?
Além de concentração tenho de ter bastante pontaria.
Por isso minhas amigas…vão-me desculpar, mas se um dia me quiserem convidar para ir com duas de vocês ao mesmo tempo para a cama já sabem a resposta…
As vezes mesmo sendo homem, em matéria de sexo consigo pensar lucidamente e racionalmente:
- Vou com as duas, já que insistem mas depois lá dentro apenas me dedicarei á melhor de vocês.

AMIZADE


Foram duas as vezes que ao longo da minha vida ouvi a expressão “Somos amigos e é como um amigo que te vejo. Não quero confundir as coisas e estragar a nossa amizade.”.
A primeira vez que a ouvi foi há muitos anos, andava eu no secundário, e na minha inocência achei deveras nobre a atitude da catraia. Chamava-se Martinha e que linda me pareceu ela por tanto valor dar á nossa amizade…O.K.…se calhar não era inocente…era mesmo estúpido.
Bem a tentei convencer que a nossa amizade não sofreria abalos, nem sismos de elevada magnitude por darmos uns beijinhos, mas ela insistiu que se o fizéssemos tsunamis e dilúvios inundariam a nossa relação amigável.
Devia ter razão a Martinha…uma miúda tão bonita de certeza que nunca se enganaria.
Orgulhoso caminhava eu diariamente ao lado dela, a caminho da escola e no caminho de retorno para as respectivas casas. Nesta sã convivência semanal escutava as historietas de rapazes com que ela tanto namoriscava e com orgulho pensava em voz bastante baixa “Coitados…Não ganharam a amizade dela e por isso é que ela lhes dá tanta bola! Mal sabem os Don Juan´s que no fundo só são tão íntimos da Martinha porque não são verdadeiros amigos dela como eu.”.
Chegava a ter pena deles.
A nossa amizade não foi interrompida abruptamente mas pouco a pouco foi abastardada pela erosão das correntes da vida, de tal modo que hoje raramente nos encontramos e quando tal acontece é por mero efeito aleatório proporcionado pelo todo-poderoso.
De qualquer maneira, o meu lugar no céu deve estar guardado, porque evitei que um sentimento tão puro como a amizade entre duas pessoas fosse deturpado por parvos caprichos de um miúdo de 13 anos. Mesmo que tal abstenção não chegasse para reservar o meu cativo para a eternidade deve ter me dispensado de prestar provas de admissão se eu quisesse porventura seguir o curso de Teologia.
Cresci e até ao dia que o Déjà vécu (Uma das três modalidades de Déjà vu) me visitou 12 anos depois, fui tendo conhecimento que muitos amigos e amigas se confrontaram com o mesmo problema…A amizade estragava-lhes os planos com a pessoa de quem gostavam a outro nível.
A não ser que a Martinha fosse a primeira mulher a pisar a híbrida fronteira entre a amizade e o amor sem a querer transpor para a terra que faria o meu contentamento, todas as pessoas estudam pelo mesmo manual, um manual antiquíssimo passado de geração em geração, o manual da treta.
-A amizade é no fundo a maior “empata-quecas” que existe no universo. – Dizia me o inconsolável Ruben.
- É arriscado sermos amigos dos homens bonitos… - Confidenciava me a Sílvia.
- Só há uma coisa a fazer…borrada da grande, vou estragar a minha amizade com ela, fazer-lhe algo deveras mau para que ela não veja mais na nossa amizade um impedimento para irmos os dois juntos para a cama. – Propunha o Gonçalo antes de me perguntar quantos anos de cadeia apanharia por pegar fogo a uma casa.
Eu bem lhes tentava explicar que aquela era apenas uma desculpa, e que o que eles deveriam ler nos lábios da outra pessoa era:
-Não me atrais minimamente. Desculpa, mas não há nada em ti que se aproveite e nem por misericórdia por sermos amigos conseguia que se passasse algo entre nós.
Mas será que cabe na cabeça de alguém que uma pessoa vai deixar de andar com outra, de quem gosta e com quem entende que vai ser feliz porque “isso poderia pôr em risco a amizade”?
Então não é a verdadeira amizade que subsiste a tudo?
Deve é subsistir a tudo…que convém.
E quem foi o supra sumo da inteligência emocional que decidiu que o valor da amizade não deveria ceder perante o valor do amor?
Porque não ouço ninguém a dizer-me “ João, eu amo-te do fundo do coração, és tudo para mim, quero passar todos os instantes da minha vida contigo e ser feliz ao teu lado, mas por favor…não me peças a minha amizade…não consigo dar-te mais do que este amor e se fossemos amigos tenho a certeza que íamos estragar tudo.”?
Muitas mulheres depois, bastante inimigas como convém, e já com 25 anos volto a ouvir a mesma expressão…amigos sim…mais do que isso seria estupidez porque iríamos estragar tudo.
Outra Marta…
Mas dessa vez outra atitude…
A sabedoria popular, sempre tão útil quando precisamos de concluir uma brilhante argumentação com uma verdade que por ser tão cegamente transmitida se torna quase universal, deveria ter pensado este caso.
Assim se algum dia, uma mulher me voltar a dizer a já sobejamente conhecida passagem do manual da treta limitar-me-ia a dizer com ar triunfal:
-Minha querida, já diz o sábio povo que nestas coisas nunca se engana:
Amigos, amigos, ir para a cama contigo todas as noites á parte.

AMOR PERCENTUAL


Esta é a história de Rui e Sara.
Rui sentia uma grande amargura e um constante mal-estar por não conseguir corresponder por inteiro ao amor que Sara sentia por ele.
Ele bem se esforçava e prometia fazer tudo por tudo para que um dia gostasse tanto de Sara como ela gostava dele.
De realçar que Rui era um homem de palavra.
-Tens de ter calma…eu quero mesmo gostar de ti e um dia vou gostar a 100% assim como tu gostas de mim.
-Tenho medo que esse dia, nunca chegue…e se não chega? Terei que viver para sempre sem ser completamente correspondida?
- Já te disse que vou gostar de ti a 100% e é isso que vai acontecer.
-Mas quando?
-Uma semana…é esse o tempo que vai demorar para que eu goste de ti a 100%.
-Prometes Rui?
-Tens a minha palavra Sara.
Passou segunda-feira…terça-feira…quarta-feira…quinta-feira…sexta-feira…sábado…e como Rui ainda não gostava de Sara a 100% decidiu amputar o braço, que pelos cálculos dele corresponderia ao défice de 15 por cento, que faltava para que dentro dele o amor por Sara preenchesse a tão ambicionada centena percentual.
E viverem felizes para sempre…a 100%.

terça-feira, 24 de julho de 2007

MULHER DA MINHA VIDA


Depois de muito ter ponderado, vou ter que ser adulto e assumir aquilo que sinto por ti.
É no fundo a forma que arranjei de exprimir tudo o que fizeste por mim nos últimos tempos e todo o trabalho que de há um mês para cá tens tido para me conquistar.
Tu mereces mais do que qualquer outra que te diga isto, e espero que depois de o saberes não te descuides e continues o bom trabalho para que te possa continuar a dizer isto:
És a mulher da minha vida do mês.

TENTATIVA NUMERO 1 DE COMPREENDER AS MULHERES


Fernando amava Isabel.
Desde que a conheceu desejou tanto ficar com ela para sempre que fez de tudo para a conquistar:
No início inundava a casa dela de flores. Isabel protestava porque já não tinha vasos nem recipientes para colocar as belas rosas, orquídeas e margaridas que quase diariamente chegavam a sua casa.
A solução foi começar a depositar todas estas missivas do amor de Fernando num mesmo lugar, o contentor do lixo que ficava ao fundo da rua.
Inúmeros jantares ofereceu Fernando a Isabel, refeições nos sítios mais surpreendentes acompanhados sempre de palavras que deixariam muitas mulheres extasiadas, mas não Isabel que aproveitava estes encontros apenas para saborear os manjares dos Deuses que divinalmente degustava.
Fernando fazia o que fosse preciso para ver Isabel feliz, por isso nas primeiras férias grandes desde que a conheceu, decidiu oferecer – lhe a viagem de sonho dela na esperança de que a sua companhia fizesse daquela viagem, a viagem de sonho dele também.
Isabel agradeceu a oferta mas não se coibiu de convidar a melhor amiga a viajar com ela, ficando Fernando “em terra” a morrer de saudade da mulher dos seus sonhos.
Mas tanta atitude numa mulher só dava a Fernando mais vontade de conseguir o seu prémio e de ganhar o amor de Isabel, por isso decidiu comprar uma casa na mesma rua que ela para sentir que se aproximava cada vez mais.
Passado um mês Isabel recebeu uma proposta de trabalho em Africa e nem pensou duas vezes partindo sem dizer nada a Fernando. Desesperado partiu em busca da donzela, deixando toda a sua vida estável para tentar encontrar a estabilidade emocional ao lado da pessoa mais instável que conhecia.
Com uma fotografia de Isabel, passou dias e noites, na cidade para onde lhe disseram que ela partira a perguntar se alguém a tinha visto ou conhecia aquela beleza.
Com 43 graus não parou de a procurar e sempre que se sentia desfalecer olhava para a fotografia, qual miraculoso liquido revigorante.
Em África enquanto procurava sua amada, conheceu Madalena e porque o coração tem esta particularidade de surpreender os mais cépticos ficou apaixonado, relacionando-se com esta bela mulher que com ele veio para Portugal passando a partilhar com Fernando a sua casa.
Quando passado duas semanas Isabel voltou ao nosso pais, ao saber que Fernando namorava, não aguentou e com um tiro na cabeça matou-se, por achar que nunca conseguiria o amor do homem que sempre amara, Fernando.

domingo, 22 de julho de 2007

aMOR e MORte


Duas palavras indissociáveis.
A maioria de aMOR é em grande parte MORte.
A maioria de MORte é uma grande parte de aMOR.
De Amor e morTE sobra apenas um ATE.
Não é por acaso...
ATÉ que a morte vos separe.

AMO-ME


É mais forte do que eu...o amor que sinto por mim é algo de inexplicável. Não foi amor á primeira vista confesso: No inicio era-me completamente indiferente, acho que nem me apercebia que existia, pouco a pouco e porque o destino tem destas coisas, comecei a cruzar me comigo a todo o instante, mas mesmo assim estava mais preocupado em dar uns chutos numa bola do que em disponibilizar-me para iniciar o meu despertar para essas coisas do amor. A verdade é que não consigo dizer o dia, nem sequer o mês e temo que nem o ano que comecei a gostar tanto de mim...É uma falha imperdoável para alguém que gosta tanto como eu gosto? Sem dúvida. Mas que isso não ponha em causa este amor do tamanho do universo, porque havendo falta de uma data comemorativa celebro diariamente o dia em que despontou essa minha obsessão por mim.
Aquilo que me começou a chamar a atenção foram os olhares sempre correspondidos, parece que estou a exagerar, mas sempre que me vi nos olhos, estes retribuíram o olhar.
“Tem a mania...”, “convencido...”, pensem o que quiserem, provavelmente eu pensaria o mesmo.
Todas as minhas relações foram avante, muito graças á obra de amigos comuns, e apesar de desta vez não faltarem amigos comuns, arrisco a dizer inclusive que não tenho tantos amigos comuns com mais ninguém, a verdade é que me conheci sem ajudas.
Como eu já desconfiava notei desde o principio que a vontade de conhecer era reciproca e apesar do receio que temos sempre, “mesmo quando tal parece quase impossível” de o amor não seja correspondido a verdade é que não tinha ainda acabado de dizer boa noite e já me era retribuído o cumprimento quase na totalidade.
Que felicidade que senti...
Fazíamos tudo juntos, e quando digo tudo era mesmo tudo, por mais íntima que fosse a situação eu lá estava á acompanhar-me e sem ter nunca a vontade de estar mais sozinho.
Percebi que é isto que define um verdadeiro amor...querer estar a todo o tempo com a pessoa de quem gostamos, seja no verdejante campo onde o pólen esvoaça pelo matagal cuidado e sereno ao som de um qualquer tema de “Musica no coração”, seja na casa de banho, na mais intima das actividades. Eu estou sempre comigo e não vejo que a minha vida possa ser de outra maneira.
Temos gostos demasiado parecidos, o que por vezes constitui um problema mas pelo menos estamos constantemente de acordo: Apetece me ir ao cinema e vamos, apetece a um de nós ir ao teatro ninguém contesta, apetece-nos ficar a dormir até tarde não há quem nos acorde, é uma adorável sintonia.
Não digo que o amor entre nós seja constante, claro que sofre oscilações, tem dias em que não gosto do que vejo, dias em que tomo atitudes que não devo, arrependendo-me quase de seguida, mas ao contrario de muitos casais, eu perdoo-me sempre e nunca conseguirei acabar comigo nem deixar de dar uma segunda oportunidade, uma terceira, uma quarta, o que tiver de ser a mim mesmo.
Ás vezes aparecem pessoas que se metem na nossa relação e isso torna-nos ainda mais fortes pois quando isso acontece ainda gosto mais de mim. De facto é complicado explicar este amor que não apenas é condescendente com tal promiscuidade como esta ainda fortalece o nosso elo.
Confesso que nas mais loucas noites da minha vida, além de mim e do meu amor próprio estiveram mulheres de quem também gostamos e que nunca se importaram de partilhar a cama connosco.
Tive sempre a sorte de ter parceiras bastante liberais nesse campo.
Numa era em que todas as minorias reivindicam os seus direitos nós não abdicamos de lutar contra todas as discriminações que somos alvo. Os olhares reprovadores são uma constante e se no início foi complicado e nunca assumi esta relação, a vontade de gritar ao mundo o quanto me amo falou mais alto.
Casamento entre mim e eu próprio é o objectivo supremo, e só no dia em que for possível eu andar com duas alianças poderei dizer que venci esta batalha. Mais uma vez a igreja Católica não surpreendeu e demonstrou todo o seu conservadorismo ao negar a minha pretensão.
Argumentaram que tal cerimónia não passaria de um acto simulado de um casamento com cariz homossexual de um homem com ele próprio, pelo que continuarei a viver em união de facto comigo até as mentalidades mudarem.
Mesmo que nunca chegue a consumar o meu casamento, oficializando toda esta paixão tenho a certeza que a minha vida termina no dia em que eu morrer, pois não conseguirei andar por este mundo sem mim, tamanho é o amor que sinto.

O ROSTO DO BLOG


Todos os Blogs deveriam ter um rosto.Deveria ser obrigatório por lei.Blogs anónimos são sinonimo de cobardia, de falta de carácter e de um medo de represálias condizente com o período que antecedeu a revolução do nosso contentamento e que se retomou em 12 de Março de 2005 com a eleição de José Sócrates.Parafraseando o brilhante advogado Americano Clarence Darrow, "A história repete-se,esta é das coisas erradas com ela.".
Este é o rosto...O rosto que o Primeiro Ministro poderá processar por difamação.O rosto que poderia ser o de Jude Law ou de George Clooney, mas que para grande descontentamento das massas é o meu.O rosto que muitas pessoas gostam e muitas outras não.O rosto da vitória porque na hora da derrota ninguém se atreve a tirar-me fotografias.O rosto da mudança porque há dez anos eu era bem diferente.O rosto da polémica porque nada no mundo é consensual.O rosto que levou três pontos junto ao lábio como resultado de um choque contra uma mesa enquanto dançava o grande êxito "Eu vi um sapo" quando tinha dois anos de idade.O rosto que consegue ficar bem uma vez em cada cem fotos que lhe tiram,se bem que uma vez ficou bem duas vezes em trinta, mas infelizmente só nos podemos mascarar no Carnaval.O rosto da alegria quando o Porto ganha um jogo e o rosto da tristeza quando Portugal não vence.O rosto que Deus me deu e que quando pensei em devolver já não estava na garantia.O rosto do João e a partir de hoje também o rosto do blog "Sentido de Hamor".