domingo, 30 de setembro de 2007

BARULHO


Porto, 01 de Outubro de 2007

Desde que me mudei para este apartamento, quando me separei da minha mulher, que as noites tornaram-se um pesadelo. O sepulcral silêncio habitava cada metro quadrado da minha humilde casa e sem pedir licença ensurdecia os meus ouvidos tão habituados ao ofegante respirar da minha Maria.
A rua é calma e pacata, sossegada e desprovida de qualquer rebuliço indiciador que um caminho da invicta se trata.
Habituei-me por isso neste últimos cinco anos a tratar por tu o silêncio, a respeita-lo como algo sagrado e a senti-lo como se de um amigo se tratasse.
A solidão não é uma coisa boa mas às vezes é aquilo que temos de melhor e é por isso que não desesperei em arranjar uma companhia que abrisse a porta a este nu sonoro que durante tanto tempo me acompanhou entre estas quatro paredes.
Quando pela primeira vez a vi, senti de imediato que algo na minha pacata vida estava prestes a mudar…Uma graciosidade sem precedentes e uma contagiante alegria invadiram o meu espaço e as noites nunca mais voltaram a ser noites de um sepulcral silêncio.
Nunca mais adormeci às 21 horas, como se fosse uma criança com um respeito divino pela ordem dada pelos “patinhos”.
Nunca mais acordei ás 10 horas com o pesado silêncio que me obrigava a ligar mecanicamente o rádio, para que o diluísse com as frescas noticias do dia.
Nunca mais tive um sono seguido, sem que os meus tristes sonhos sofressem interrupções.
Por tudo isto lhe peço que por favor se lembre que tem vizinhos que não são obrigados a aturar o chiqueiro e o chavascal que para ai vai e que se não começa a ter mais cuidado com o barulho que faz poderá ter algum azar, um dia destes no elevador.
Atenciosamente, o sempre disponível vizinho do 3ºesquerdo, Adolfo.